domingo, julho 17, 2005

Eu vou cuidar

De viver.
Parei por um tempo de escrever.

sexta-feira, julho 08, 2005

Sobre conhaques e cigarros

Sobre conhaque e cigarros


Tinha dezesseis anos, cabelos loiros e um medo imenso de que a mãe descobrisse que fumava desde os quatorze.
Noite de natal.
Acendeu o cigarro pela primeira vez na frente da família toda.


Sonífera ilha tocava.


E a família tradicional tomava conhaque e escutava como se fosse a coisa mais normal que pudesse estar acontecendo numa reunião normal de família normal com uma garota loira de dezesseis anos que acendeu um cigarro pela primeira vez. Normal.

Todos acharam normal. Principalmente depois do que seu tio mais rico, em meio a gritos e gargalhadas descontroladas de família normal que bebe de vez em quando e nessas horas aproveita pra libertar o muito apertado colarinho que fica preso em dias comuns, havia falado sobre cigarros:

“ Eu fumo mesmo! Quem fuma nunca vai sofrer de Alzheimer”.

De onde ele ouviu a frase que provocou silêncio e aprovação geral não se sabe...

domingo, julho 03, 2005

A T É

Futuramente gostaria de escrever algo que não abalasse minhas torrenciais estruturas,
que não despenteasse meus negros cabelos curtos.
Futuramente.
Sou eu mesma. Não posso fugir disso.
Amanhã de manhã antes da Yoga, ao tomar o café da manhã com queijo cottage e leite desnatado, quem sabe serei outra?
Outra que com certeza não conseguirá fugir de si mesma.

CrImE

Decidira cometer o crime.
Depois de ver a mancha em seu lençol.
Depois de ouvir o barulho infernal de .Zzzzzzzzzzzzzzzzz-zz-zz-z.
Lençol rosa de florzinha, branco de uma ponta a outra. Agora com interferência de uma mancha vermelha com formato indefinido quebrando o ritimo delicado e a intensidade nostálgica e pálida do rosaebranco rosaebranco rosaebranco - VERMELHOMANCHA -rosaebranco.rosaebranco...
Barulho arrepiantemente irritante. De despertar náuseas na beirinha do estômago. Pior que pia quando pinga a noite inteira,
pior que giz quando arranha fininho no quadro negro,
pior que fogos quando estouram.
Duas armas nas mãos para os dois reféns. Momento ideal. Luzes apagadas. Apenas o barulho da dúvida:
Não sabia qual dos dois matar primeiro.
Não importava se mataria inocente ou culpado. Ou importava?
Sabia apenas que ambos deveriam pagar pelo preço dessa sanguinária extistência. Não queria acordar e ter que ouvir lamentações ou suspiros ou rostos piedosos. Menos ainda incompreensíveis onomatopéicas e irritantes. Mesmo que algumas viessem de amor bonzinho. De namoradinho de primário que quer ver a lua cheia.
E não queria ser uma possível vitima. Odiava ser vitima. Mas sempre era. Porque escolhia ser.
Pensou nas manchas vermelhas de sangue dos lençóis de hospital.
Na seringa de agulhas grossas de hospitais onde fazem exames de sangue.
Sentiu medo como quem sente falta de ar e respira pela pele. Sempre detestou exames de sangue e os médicos que perguntam Vocêestábem? Vocêestábem?
Eutôpéssimaporra! O-dei-o-e-xa-me-de-san-gue!
A suposta vitima boazinha, que estava deitada ao seu lado sempre perguntava Vocêestábem? Vocêestábem?E vinham lhe na cabeça os exames de sangue mesmo que não tivesse nenhuma mancha por perto.
Quando acordava à noite irritada com o onomatopéico vilão zzzzzzzzzzzzz-zz-zz-z. Tudo lhe vinha a mente como um grande pesadelo de noite mal dormida, de vida mal sonhada, de sonho mal entendido, de dor de exame demorado.
Agora tinha a grande chance. O poder de executar um grand finale para aquele pesadelo terrível.
Pensou em nada. Em branco. Em cinza. Em vermelho.
Ergueu-se lívida.
Acendeu as luzes. Um acordou.
Outro pousou na parede brancabrancabranca.
Com um revolver (e um beijo) adormeceu o Um. Seu namoradinho de infância, que dês de os treze até os dezessete a acompanhava, sempre com a mesma pergunta – Vocêestábem? Vocêestábem?.
Com um chinelo esmagou o Outro, que sabia que morreria, mas que mais cedo ou mais tarde apareceriam outros, assim como os namorados. Mais cedo ou mais tarde aparecem outros, eles sempre vêm. Com perguntas idiotas ou não;
Não seria capaz de suportar mais uma noite com um projeto zzzzzzzzzz-zz-zz-z de animal faminto.
Muito menos com o namorado Vocêestábem? Vocêestábem? distinto.
Esfregou os olhos lacrimejantes com a ponta dos dedos.
Voltou a apagar as luzes e, quando já ia se deitar, lembrou-se de botar o despertador para tocar.
Havia esquecido.
O Exame de sangue era às sete horas.

terça-feira, junho 28, 2005

lost

perdi um amigo não no dia em que ele me disse adeus e me esqueceu na chuva gripada e molhada de lagrimas e suor, mas no dia em que ele não ligou pra desejar felizanonovo. minha taça rachou no chão, tentei esfregar um pano úmido para limpá-lo mas já era tarde demais. eu sangrava por dentro. e o vapor dos fogos de atifício me conduzia à um mundo etéreo, distante dos beijos carinhos e abraços. se é que eles existiram. esvaiu-se meu sonho de amizade sincera. só voltei a viver quando a campainha soou. era dia dois, minha mãe veio dar faxina na casa.

quarta-feira, junho 22, 2005

A primeira reunião budista



Manhã de sábado. Resolveu virar budista por influências externas. Ou internas. Ou pela falta de opção melhor, ela não sabia.
Era uma casa. De alguém. Pessoas extremamente simpáticas.
Budismo prega Buda como sendo cada pessoa que convive com você, ou não, ou um sorriso dado pelo porteiro que deixa seu dia mais feliz, ou um sorriso que você dá na fila do banco pra um senhora velha manca irritada que quer furar a fila porque é velha, ficou manca e está irritada. Você é Buda. A senhora velha manca irritada é Buda. O importante é saber que Buda é uma energia e que emana de você e das outras pessoas e que cabe a você e somente a você encontrá-la e transmití-la. Cabe a você e somente a você tê-la.
Namy-o-ho-ren-gue-kyo”
(não sei se é assim que se escreve, mas o som é bem semelhante).
Fim da reunião.
Uma das meninas extremamente simpáticas diz:
- Tomara que você volte sempre!
Eu procuro responder com a mesma simpatia, empolgação, bastante afirmativa:

- Se DEUS quiser...

terça-feira, junho 21, 2005

Pílula

Tenho referencias que me seguem
referencias que não sei explicar por que aparecem
mas se aparecem é porque estão ali
e eu me sinto meio Zé Celso, confesso..
Em Cacilda principalmente
Ou em Hamlet. ensaio. com
Se nao leu meu livro, não viveu meu dia, não sonhou meu sonho
Você não me entente.
Mas eu não quero que ninguém me entenda.
Se quisesse acho que não escreveria...
Me sente que eu me sento e releio e reviso e reformulo
e me entendo. Melhor.

segunda-feira, junho 13, 2005

Trinta e seis dias dos namorados

No início e no fim.
Olhou-se vagarosamente deixando cair sobre o espelho um chumaço fino de seus longos cabelos alisados com chapinha quente. Deixou de retocar a maquiagem borrada. Colocou por sobre a saia curta branca engomada um cinto cor de rosa. Baixou o volume do som.
Era sempre mais de meia noite e ela nunca conseguira um namorado que lhe trouxesse flores azuis.
Roberto trouxera rosas cor de rosa: -frágeis demais, eu sou muito forte!
Pedro lhe trouxera rosas vermelhas: - É muito clichê! Eu sou original demais!
Daniel lhe troxera girassóis, : - Girassóis cheiram forte, eu sou alérgica demais!
E num acesso de choro arritimado demais, completamente involuntário demais, (já que ela era controlada demais), gritou, convicta demais:
Quero rosas azuis!
Silêncio.
Ninguém ouviu.
A esta altura todos ja estavam longe demais.
Ela pensou que talvez o mundo fosse demais para uma menina tão especial, tão linda, tão meiga, tão doce, tão inteligente, demais. Tudo de mais.
No início e no fim.
Olhou-se vagarosamente deixando cair sobre o espelho um chumaço fino de seus curtos cabelos alisados com chapinha quente. Limpou a maquiagem borrada. Tirou da saia curta engomada o cinto cor de rosa. Aumentou o volume do som.
O sangue manchado de azul escorreu pelo chão do quarto.
Era tarde demais.
Ao som de madonna em "like a virgin", cai sobre o chão "O casamanto de Dona Baratinha". Aberto na página 36.

quarta-feira, junho 08, 2005

Definir

SimplesDelitoAMimMesma
simples

do Lat. simplice
adj. 2 gén. e 2 núm.,
sem composição;
sem mistura, singelo, puro;
que não é complicado;
fácil de compreender;
claro;
que não é duplo ou múltiplo;
só;
único;
sem ornatos;
desataviado;
evidente;
vulgar;
boçal;
sem malícia;
ingénuo;
que vive sem luxo;
s. 2 gén. e 2 núm.,
pessoa simples, humilde;
pessoa ingénua, parva;
papalvo;
s. m. pl., Arquit.,
cambota, cimbres;
Bot.,
plantas silvestres que possuem certas propriedades medicinais.
à - vista: à vista desarmada;
fig.,
intuitivamente


delito
do Lat. delictu
s. m.,
facto que a lei considera punível;
ofensa à moral;
crime;
atentado;
falta;
culpa.



a

pron. dem. pron. pess. adj. 2 gén. e 2 núm.

s. m. adj.

fem. sing. de o



mim

pron. pess.
mim
do Lat. mi, abrev. de mihi
pron. pess.,
forma tónica do pron. pess. eu, é obrigatoriamente precedida de preposição (com excepção da preposição com) e desempenha a função de complemento: Falaram demim.;
a minha pessoa.



mesma

s. f.,
o mesmo estado;
as mesmas circunstâncias;
estado daquilo ou daquele que não sofreu alterações.


puro crime em adj. , gén. e núm a minha pessoa em estado daquilo ou daquele que não sofreu alterações??